Muitas pessoas que amam escrever enxergam o primeiro livro como condição única para se tornarem escritores de verdade. Inclusive, esperam ter uma obra publicada para se dizerem escritores (ainda assim com um certo receio).
Tudo isso também acontecia comigo. Até que um dia, quando me perguntaram qual era a minha profissão, respondi: escritora. Não pense que essa resposta saiu naturalmente. Foi preciso muito treino interno e coragem. Sim, porque alguns podem achar que se a pessoa se autointitula escritora, é porque ela se considera muito boa ou até prepotente. Não é assim?
Mas do que temos medo, afinal?
Sobretudo, o receio é de parecer arrogante ao falarmos que somos escritores sem um livro no qual possamos nos apoiar. O que vão pensar se não escrevi nenhuma obra ainda? E se descobrirem que só criei meia dúzia de textos? Não tenho esse direito, olha o que os grandes escritores escrevem.
Por mais que possa doer, a verdade é que você não é nenhum Machado de Assis e nenhuma Clarice Lispector. Ainda bem! Porque assim você pode, por meio da sua escrita, trazer novos conceitos sobre a própria literatura. Ou ainda uma história com um ponto de vista que ninguém abordou até então.
Além disso, talvez você não mude o mundo de ninguém (até porque é possível que decida nem mostrar os seus textos). Em contrapartida, você tem grandes chances de mudar o seu mundo enquanto escreve. Para melhor.
Escritor(a) não é um título
Antes de mais nada, escritor(a) não é um título que se obtém só após escrever um livro, ganhar um prêmio ou assinar contrato com uma editora. Mesmo que você esteja no início do processo, o ato de escrever com certa frequência já lhe dá o direito de pegar essa palavra para si sem medo do que pensem por aí.
Afinal de contas, quer coisa mais grandiosa do que se propor a aprender algo? Ou sonhar em ser escritor? Nesse sonho, já está implícita toda a escrita que só espera pela coragem de sair.
E qual é essa vida toda que existe antes do primeiro livro?
Antes de tudo, a jornada antes do primeiro livro é tão ou mais rica do que escrever um livro. Inclui ter a coragem de começar a escrever o que grita por dentro. Se deixar levar pelas palavras sem saber o destino. Sim, existem muitos clichês como esse, que nos ensinam a escrever melhor a cada texto.
À medida que você vai escrevendo com mais frequência, procura cursos e conteúdos para aprimorar a sua escrita. Começa a participar de oficinas de literatura, a ter contato com colegas que estão passando pelas mesmas experiências e desafios. Ao mesmo tempo, você repara que está escrevendo mais, com uma frequência maior. Até conteúdo nas redes sociais você se pega criando.
Então, você vai se preenchendo de literatura por todos os lados, por todos os poros. Até não querer fazer mais nada da vida (sério!).
Desse modo, você passa a ler mais por prazer, não por obrigação. Começa a viver histórias cômicas que dariam um livro. Aqueles micos que na hora são tudo menos engraçados, sabe? Situações que ensinam mais do que qualquer outra coisa.
Durante esse processo de descobertas (são tantas), você pode perceber que existem outras coisas para escrever além de um livro. Contos, crônicas, posts, artigos, frases, diário, blog. Textos avulsos, muitas vezes sem categoria, sem coletânea, mas tão seus. Tudo isso é escrita. Tudo isso é vida antes do primeiro livro.
Além disso, a escrita é uma ferramenta de autoconhecimento capaz de deixar o seu caminho muito mais leve. Nessa linha, você muda a sua lente para a vida. Aprende a observar o mundo com mais profundidade, mais curiosidade para os detalhes, para o não exposto. Você ressignifica as suas próprias histórias, as suas experiências que te trouxeram até aqui.
Com olhos de escritor. Com alma de artista. Com uma vontade louca de continuar a escrever.
E por que sei que existe vida antes do primeiro livro?
Em primeiro lugar, porque escrevi um livro exatamente com esse título. Nesse meio-tempo até publicá-lo, aprendi coisas que podem ser úteis para quem está iniciando na escrita agora ou para quem deseja continuar.
Para esclarecer, não úteis no sentido de cortar caminho, até porque cada um tem uma trajetória na escrita. Mas para saber que não é o único a ter dúvidas e a passar por situações as quais compartilho no livro.
Quem está começando muitas vezes se sente sozinho e sem alguém que pegue na mão e diga que é normal sentir tudo isso. Que você está criando o seu próprio caminho (certo).
O que você vai encontrar neste livro?
Acima de tudo, aquelas experiências de escritor(a) iniciante que quase ninguém conta quando vira famoso ou um escritor sério (ou pelo menos levado a sério). É aquela vontade louca (sonho de vida) de escrever um livro sem saber por onde começar. É mudar de ideia, mas não mudar de sonho no primeiro momento.
Continuando, é pagar micos que na hora não são nem um pouco engraçados. É se dar conta de que você pode mudar de sonho sim, afinal, não existem só livros para serem escritos. É aprender a lidar com um monte de sabotadores da escrita (e da vida), incluindo o mais perigoso de todos, você.
Portanto, o meu maior desejo é que você inicie (se não tiver começado) e que continue na escrita. Que perceba, assim como eu, que vale a pena cada mico, cada aprendizado, cada não, cada dúvida e tudo o que viver no caminho até seu primeiro livro ou seus primeiros escritos.
Continue sonhando, mas não se esqueça de realizar seu sonho de escritor e vivê-lo na sua rotina.
Se gostou do tema e ficou com vontade de ler mais sobre, o
livro EXISTE VIDA ANTES DO PRIMEIRO LIVRO está à venda no site da Metamorfose. E se quiser comentar sobre ele, sinta-se à vontade.
